segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma "Suíça" no Oriente Médio

Por: Antônio Roberto / Tribuna do Norte

São apenas 92.300 quilômetros quadrados e uma população de seis milhões de habitantes. Tais números, porém, não retratam a real grandeza da Jordânia, um país multifacetado, com incrível mix de atrações arqueológicas, religiosas e histórico-culturais. Dizem que é a "Suíça do Oriente Médio". Pode ser. Não propriamente pelo desenvolvimento, já que não explora petróleo, como os vizinhos. Ou mesmo pelo paraíso fiscal. Mas pela paz, pela própria tolerância e pelo fato de abrigar árabes das mais variadas matizes e crenças. Quando o regime do Iraque demonstra instabilidade, é na Jordânia onde a maioria se refugia (muitos inclusive estão lá até hoje). Idem em relação a Kuwait, Bahrein e Líbano, assim como a própria Síria, cuja capital, Damasco, a 215 quilômetros de Amã, atravessa momentos conturbados, com tentativas de deposição do presidente ditador.
Mesmo rodeada de conflitos além-fronteiras, a Jordânia seduz pela calmaria,
pela hospitalidade e pelos contrastes entre o antigo e o moderno

Divulgação

Mesmo rodeada de conflitos além-fronteiras, a Jordânia seduz pela calmaria, pela hospitalidade e pelos contrastes entre o antigo e o modernoA Jordânia, mesmo rodeada de conflitos além-fronteiras, seduz pela calmaria, pela hospitalidade de seu povo e, sobretudo, pelos cenários diferenciados. Se hoje você dorme num acampamento beduíno, em pleno deserto, amanhã poderá estar num confortável resort cinco estrelas no balneário de Aqaba ou no Mar Morto. Se a descoberta arqueológica às vezes ressuscita uma cidade perdida, como Petra, logo depois poderá lhe revelar ruínas romanas, como Jerash. A religiosidade, por sua vez, tanto relembra Moisés, no alto do Monte Nebo, como leva a um banho no Rio Jordão, no local onde Jesus Cristo foi batizado.


Petra

Ela é uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo (2007). É, literalmente, um achado. Depois de esquecida desde 363 d.C, quando foi devastada por um terremoto, um viajante suíço redescobriu Petra para o mundo. Pena que só em 1812... Mas a humanidade agradece. Petra é realmente única. São 10 mil anos de História. Um verdadeiro e amplo museu a céu aberto, que resguarda tempos e templos nos quais a cidade disputava com Jericó a hegemonia do comércio na região.

As influências foram tão marcantes quanto sucessivas: assírios, gregos, romanos e bizantinos se revezaram no poder. Os nabateus, pastores nômades das montanhas, foram, porém, os grandes arquitetos de Petra. A "praia" é deles, permitam-me. Desde a fachada das casas em pedra avermelhada (daí o nome, Petra) até o próprio sistema de abastecimento de água, considerado moderno e inovador para padrões tão remotos e arcaicos, os nabateus brilharam. Como a própria pedra que resplandece em meio ao movimento do sol.

O Tesouro é o maior ícone arquitetônico de Pedra. Ficou conhecido mundialmente por servir às locações do filme "Indiana Jones, a Última Cruzada". Chega-se até lá através do Siq, um caminho sinuoso entre pedreiras enormes, que chegam a 100 metros de altura. O mosteiro, dizem, é a segunda principal atração. Só que é preciso tempo - e disposição - para conhecê-lo. Afinal, são 900 degraus irregulares até lá. Se tal aventura não rolar, o melhor é se concentrar na chamada Rua das Fachadas, o "Centro" de Petra, onde há mais de 40 tumbas e casas encravadas nas pedras, além de um comércio de lanchonetes e de artesanato totalmente desnecessário, que enfeia a paisagem.

É preciso estar atento a alguns detalhes para visitar Petra. Sem bom condicionamento físico, é melhor recorrer a um riquixá ou mesmo a um burro para explorar o local. Da entrada do parque até o Tesouro, pelo Siq, são quase um quilômetro e meio. Depois, para conhecer a "cidade" com detalhes, são mais dois quilômetros, em média. Ou seja: entre ida e volta dá mais de seis quilômetros, sempre sob o sol. Daí, é recomendável começar a visita antes das 7 horas da manhã, com retorno anterior às 14 horas. O pico do sol geralmente se dá às 15 horas. Enfim, qualquer esforço vale a pena para conhecer Petra.

Jerash

Um esplendor. Jerash é uma das ruínas romanas melhor conservadas em todo o mundo. Tal como Petra, devastada por terremoto e achada por um explorador suíço, Jerash foi arrasada por abalos sísmicos em 747 d.C e redescoberta por um turista alemão, Ulrich Jasper Seetzen. Detalhe: ao contrário de Petra, vários arqueólogos continuam a pesquisar Jerash. E estão sempre revelando descobertas.

Jerash foi fundamental na rota comercial nos primeiros anos d.C, rivalizando com a própria Petra, Amã e Damasco. Atraía a atenção mundial, à época. O imperador Adriano esteve lá em 129 d.C. Em função dessa visita, a cidade ganhou um Arco do Triunfo. As colunas romanas ainda imperam em Jerash, assim como um teatro no melhor estilo Coliseu. Os Templos de Zeus e de Artemísia também são monumentos que deixaram resquícios de História e imponência.

A visita a Jerash, que fica a menos de uma hora de Amã, dura cerca de três horas e termina com uma atração inusitada: uma encenação, ao vivo, de gladiadores, seguida de uma corrida de bigas em pleno hipódromo.

Calor é insuportável em Aqaba

Do acampamento no deserto ao conforto de um resort cinco estrelas no balneário de Aqaba, no Mar Vermelho. A Jordânia tem dessas coisas. De repente, o visitante sai de um cenário natural para uma atmosfera essencialmente artificial, onde o turismo dita as regras e o jet ski cruza o mar que de vermelho não tem nada. É azul turquesa. Há muitos hotéis verticais de cadeias internacionais (Intercontinental, Kiempinski e Marriot, entre outras), assim como lojinhas de souvenir, restaurantes, postos de informação turística e visitantes de vários locais do mundo, sobretudo de países do próprio Oriente Médio. O calor é insuportável em Aqaba, que fica no extremo sul da Jordânia. Do outro lado do Mar Vermelho desponta o badalado balneário egípcio de Sharm-el-Sheik.

A maior atração de Aqaba é o passeio de barco, que dura quatro horas (com almoço) e cruza Israel, Egito e Arábia Saudita. O barco tem espaços cobertos. Sem esse detalhe o passeio seria quase inviável. O sol castiga. Dá para ver e, com bom zoom, fotografar vilarejos de Israel e do Egito, bem ao fundo, depois da imensidão da água. A embarcação, confortável, pára duas vezes para os turistas mergulharem com snorkel. Não dá para ver peixinhos coloridos. Mas o banho é histórico: afinal, você está nas águas do Mar Vermelho.

Mar Morto

O que fazer no Mar Morto? Boiar. Você não pode, sob qualquer hipótese, mergulhar ou nadar. O alto índice de salinidade da água (20%, oito vezes mais do que o normal) atemoriza. Se o sal cair nos olhos, por exemplo, pode gerar irritação. A maioria dos turistas, num quase lugar-comum, leva revista para ler na tradicional foto boiando no Mar Morto, que fica 405 metros abaixo do nível do mar. Faz parte da cena. Outro detalhe imprescindível é se lambuzar com a lama de lá, que dizem ser medicinal. A pele, vale registrar, responde bem à aplicação. Os resultados são bem nítidos nas 24 horas seguintes. As águas do Mar Morto contêm, entre outras riquezas, cálcio, magnésio e iodo.

Além de boiar em meio à salinidade, do que mais desfrutar? Bem... só há um programa por lá: esbaldar-se num dos mega resorts. São quatro hotéis: Kiempinski, Movienpick, Marriot e Mar Morto Resort. Todos altamente estrelados, com apartamentos enormes, amplas piscinas, quadras esportivas, fartos bufês e aquele jeitão de resort do Caribe. Às vezes lembram até cruzeiros marítimos, pela dimensão das estruturas. Com sorte, o turista pode ver um espetáculo de dança do ventre à noite. No Marriot, o show é interessante. Mas a "estrela árabe" é de Chapecó, em Santa Catarina.

Cenário muda com tendas no Deserto de Wadi Rum

O cenário muda abruptamente. Cena da hora: acampamento no deserto em tendas beduínas, com direito a passeio de camelo ao pôr-do-sol e tour 4x4 por trilhas íngremes e sinuosas, além de ritual noturno que inclui músicas típicas, dança (a cargo do hóspede) e carneiro assado sob a terra como prato principal. É a Jordânia com emoção. Também faz parte. Como foi registrado no início da matéria, o país é versátil.

Não é desconfortável acampar numa tenda no deserto. Há vários abrigos em Wadi Rum. A tenda tem camas de solteiro ou de casal. O chão é de areia, claro, porém coberto por tapetes. O problema às vezes é o banheiro coletivo. Há vários chuveiros e o aspecto geral é de limpeza. Mas quem precisar usar na madrugada, terá que andar um pouquinho. E guiado apenas pela luminosidade lunar. Se houver.

O jantar em Wadi Rum é caprichado. O carneiro enterrado vira ritual. É um espetáculo à parte. Os beduínos desenterram o animal cozido lentamente, com direito a platéia. Depois cortam a carne e servem bem quentinha, acompanhada de batatas e cebolas que pegam uma "carona" no subsolo reservado para o carneiro. A música ao vivo está garantida, ao som de genuína viola árabe. Os turistas dançam. Ensaiam passos de uma dança do ventre bizarra. A maioria capricha no visual nesta noite. Vira "árabe".

Os dois passeios que os turistas fazem no deserto de Wadi Rum também fascinam. O tour de camelo é o ponto alto. Durante uma hora (entre 18 e 19 horas), cruza-se a imensidão do deserto rumo a uma colina que serve de mirante para o pôr-do-sol.

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