terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Shu zai zhuozi shang

Por Cláudia Trevisan
Além da pompa e circunstância com que Hu Jintao foi recebido na semana passada em Washington, um fato mais corriqueiro evidenciou o novo peso da China no cenário global: a filha mais nova de Barack Obama, Sasha, está estudando mandarim. Aparentemente pouco significativa, a informação reforçou a aura de potência emergente que cerca a China e indicou que muitas outras mudanças virão com sua proeminência econômica. Por enquanto, são os líderes comunistas chineses que enviam seus filhos para estudar nos Estados Unidos _a filha de Xi Jinping, provável sucessor de Hu Jintao, frequenta a Universidade de Harvard.
O que não se sabe é quanto tempo vai perdurar o clima de bons amigos que envolveu a passagem de Hu Jintao por Washington, na qual o líder chinês atingiu o objetivo de ser tratado e visto como um igual ao lado de Obama. Nenhuma das divergências que opõem os dois lados foi resolvida ou amenizada e não há dúvida de que os conflitos voltarão a emergir. O relacionamento bilateral chegou ao mais baixo patamar da última década no ano passado, com ataques de lado a lado _ainda que publicamente a voz de Pequim tenha soado alguns tons acima da de Washington.

Em seus pronunciamentos, Hu Jintao disse esperar “respeito” aos “interesses fundamentais” da China, que incluem Tibete e Taiwan. Na prática, é um apelo para que líderes norte-americanos não se encontrem mais com o dalai lama _o que Obama fez há um ano_ e que o país deixe de vender armas e dar apoio material ao governo de Taiwan. É altamente improvável que alguma das duas coisas ocorra e será interessante ver como os chineses reagirão quando se considerarem “desrespeitados”.
As demandas de Washington também não serão facilmente aceitas por Pequim. Mesmo que se acelere em relação a 2010, o ritmo de apreciação do yuan continuará muito mais lento do que gostariam os norte-americanos _os mais otimistas prevêem valorização de 6%, o dobro da de 2010. E mesmo que venha a adotar uma retórica mais dura, a China não colocará o regime da Coreia do Norte contra a parede.
Mas é possível que a visita e seus desdobramentos permitam que ambos os países lidem melhor com suas divergências, com menos estridência de Pequim e mais tolerância dos norte-americanos em relação a um modelo político e econômico que desafia os seus valores. Uma coisa é certa: a versão chinesa do “the book is on the table” será cada vez mais disseminada. Quem quiser, pode começar a praticar: “shu zai zhuozi shang”.

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