terça-feira, 15 de março de 2011

O grande e histórico burburinho do comércio exterior brasileiro.

Por Jorge Alberto Fernandez Berni / 
www.administradores.com.br

Existem problemas em ser uma potência agrícola e mineral? Parte do empresariado brasileiro tem convicção de que sim.

Nos dias atuais, em meio ao processo de globalização econômica que já se encontra em uma fase de maturidade, o comércio exterior apresenta grande relevância para todas as economias do planeta. As trocas de bens e serviços entre diferentes países representam uma possibilidade de crescimento compartilhado e facilitam a criação de acordos de cooperação econômica que podem gerar desenvolvimento nas regiões em que vigoram e tornar as economias participantes mais estruturadas e competitivas.

O atual bom momento vivido pela economia brasileira está bastante relacionado ao ótimo desempenho do setor externo, o qual vem sendo puxado por constantes superávits registrados na balança comercial brasileira desde o início da segunda fase do Plano Real, marcada pela desvalorização cambial e por um novo fôlego ao setor produtivo nacional. No ano de 2009, por exemplo, o superávit apresentado pela balança comercial brasileira foi de US$ 24,6 bilhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Mesmo apresentando um bom desempenho nos últimos anos, o comércio exterior brasileiro ainda esbarra em obstáculos praticamente enraizados em nosso setor produtivo, os quais afetam intensamente a capacidade de competição da economia nacional. Pesada carga tributária, legislação trabalhista irracional, gargalos logísticos, elevado custo de capital e força de trabalho insuficientemente qualificada são algumas das amarras enfrentadas pelos empresários brasileiros. Atingem tanto aqueles que exportam parte de sua produção quanto aqueles que atuam exclusivamente no mercado doméstico e enfrentam a concorrência de produtos importados, em especial aqueles oriundos da China, que chegam ao Brasil com preços extremamente competitivos e níveis de qualidade bastante semelhantes.

As exportações brasileiras, historicamente representadas pelas commodities, têm sido importantes para o abastecimento de economias em fase de franca expansão, como a chinesa e a indiana, por exemplo. Além de commodities, o Brasil também vem se infiltrando de forma gradual nas exportações de alguns bens de alto valor agregado, como roupas, jóias e aviões, que marcam e evidenciam o tão importante e almejado processo de diversificação de nossas exportações.

Produtos como soja, carne bovina, laranja e açúcar ajudam a abastecer os volumosos e reativos mercados internos de países emergentes como a China, ao passo que outros ativos como minério de ferro e aço contribuem para a viabilização de grandes obras de infra-estrutura construídas também nesses países. Dessa maneira, o Brasil acaba adquirindo uma importância muito grande como um dos principais provedores da recuperação econômica mundial no contexto pós-crise, sendo diretamente beneficiado pelo crescimento de parceiros comerciais que enxergam a economia brasileira como uma importante base de sustentação.

O principal desafio do comércio exterior brasileiro na atualidade é justamente a agregação de maior valor à pauta de exportações. Em caso de intensificação das vendas externas de produtos manufaturados, por exemplo, o resultante fortalecimento da indústria nacional elevaria o PIB do país mediante a geração de mais empregos com melhores remunerações do que as praticadas pelos setores primário e terciário, ao mesmo tempo em que contribuiria com o aumento da arrecadação de tributos sobre a produção e o trabalho. Somam-se ainda a esses benefícios a realização de obras em infra-estrutura mediante parcerias público-privadas e o estímulo concreto à melhoria da qualificação da mão-de-obra brasileira. Isso tudo é, sem dúvidas, muito importante para o futuro da economia brasileira.

Ao lado do desafio de diversificação e agregação de valor, um grande problema vem afetando o desempenho externo da nossa economia atualmente: a apreciação cambial. A valorização do real perante o dólar tem sido apontada por empresários e órgãos ligados à indústria como um forte empecilho à liquidez de nossas exportações de manufaturados. Mesmo beneficiando a aquisição de tecnologias e itens importados necessários ao processo produtivo, tal valorização tem encarecido nossas vendas em um comparativo às vendas de economias mais competitivas, como a chinesa, além de viabilizar o abastecimento do mercado interno com produtos importados que são cobiçados pelos consumidores brasileiros.

As dificuldades enfrentadas pela indústria não se repetem com a mesma intensidade nas exportações de commodities, sendo, até certo ponto, aumentadas justamente pelos altos volumes de produtos básicos e matérias-primas que são exportados pelo Brasil, já que a entrada de moeda estrangeira fortalece a moeda local. Esse fato tem gerado um grande mal-estar e uma série de reivindicações e demonstrações de plena insatisfação entre os empresários e executivos industriais, os quais estão se colocando em uma lamentável posição de rivalidade diante dos produtores rurais e minerais.

Essa conjuntura me levou à seguinte reflexão: o Brasil está mesmo fadado a ser um mero exportador de comida e minérios? Isso é necessariamente ruim? Por que tantos se queixam desse "status"? Após muito pensar, posso dizer que não. Não é nada ruim ser uma potência agrícola e mineral. Cada um joga com as cartas e armas que tem. O Brasil é rico em recursos naturais e faz muito bem em explorar esse potencial de forma comercial e econômica. O problema não está em nossos potenciais, e sim nas nossas deficiências. O homem mais rico do Brasil já mostrou que se ganha muito dinheiro com commodities, mesmo existindo exposição a variações de preços e humores de mercados. Se ele ganha, o país, com organização, também pode ganhar e gerar desenvolvimento. Os industriais estão certos em se queixar de falta de competitividade, mas não podem se esquecer que suas restrições também afetam o setor agrícola, mesmo que de forma mais branda.

Todos estão juntos nessa empreitada de tornar o Brasil minima e aceitavelmente competitivo, não havendo espaços para queixas e desentendimentos. Os produtores de commodities brasileiros não são "inimigos", tampouco as atividades que desempenham. Busquemos soluções em conjunto e sem vaidades. Com isso e um mínimo de vontade política, faremos frente a nossos maiores concorrentes. O Brasil pode aliar setores e contemplar a todos com prosperidade. Basta querer.

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