domingo, 13 de março de 2011

Se você não pode com ele... junte-se a ele


Por Denize Bacoccina / www.istoedinheiro.com.br

Enquanto crescem as exportações da China para o Brasil, governo aproxima o BNDES do banco de fomento chinês. O rival virou parceiro?

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Wen Jiabao, premiê chinês: o superávit comercial de US$ 5,2 bilhões do Brasil com
a China em 2010 virou déficit de US$ 700 milhões até fevereiro

A balança comercial do primeiro bimestre acabou com o último argumento dos chineses de que o comércio entre os dois países era favorável aos brasileiros. O superávit de US$ 5,2 bilhões em 2010 deu lugar a um déficit de US$ 700 milhões apenas nos dois primeiros meses deste ano, aumentando o volume das reclamações dos industriais brasileiros contra os manufaturados importados do país asiático.

Um quadro desigual, pois, do lado da exportação, apenas produtos básicos, como minério de ferro, óleo de soja e derivados de petróleo, seguem para a China. Na semana passada, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o das Relações Exteriores, Antonio Patriota, se encontraram em Pequim com o primeiro-ministro Wen Jiabao para preparar a visita da presidente Dilma Rousseff ao país, prevista para a segunda semana de abril. A ordem é tentar construir o que chamam de uma relação estratégica, que vai além da simples compra e venda, no melhor estilo “se não pode com eles, junte-se a eles”. O que isso significa?
A ambição atual é construir uma parceria entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento da China (BBC) para a realização de investimentos em conjunto. Por enquanto, os aportes do gigante asiático por aqui são bem menores do que as suas boas intenções. 
Nas contas do governo chinês, o país liderou os investimentos no ano passado no Brasil, com anúncios de US$ 20 bilhões. Mas o Banco Central brasileiro, que contabiliza os recursos que de fato ingressam no País, registrou US$ 392 milhões de empresas chinesas no período.  Já os investimentos do Brasil na China somaram apenas US$ 9 milhões, uma ninharia. De todo modo, esses números indicam que os chineses parecem estar aproveitando melhor o crescimento da economia brasileira do que vice-versa.  
Durante a recente visita a Pequim, os brasileiros evitaram temas espinhosos como o câmbio desvalorizado chinês, que favorece suas exportações mundo afora. Por essas e outras, o setor produtivo ainda é cético quanto à mudança no relacionamento dos dois países. 
“A relação é muito desequilibrada, prejudicial ao Brasil”, diz o diretor de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti. O ministro Fernando Pimentel já ameaçou tomar medidas para impedir que as importações da China continuem aumentando, como sobretaxas, cotas e ações antidumping.  
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Como não pode com os chineses, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai organizar uma missão empresarial com cerca de 200 empresários para acompanhar a visita da presidente Dilma e buscar oportunidades de negócios. Mesmo assim, os industriais vão pressionar o governo brasileiro para que não atenda às pressões para reconhecer a China como economia de mercado, o que reduziria o poder de fogo brasileiro para barrar importações do país em instâncias internacionais, como a Organização Mundial do Comércio. 
“Nas atuais condições, ainda não podemos reconhecer esse status”, afirma o presidente da CNI, Robson Andrade. A China cobra, com razão, o cumprimento da promessa feita por Lula em 2004, na viagem do presidente chinês Hu Jintao ao Brasil. “Esperamos que este compromisso político se concretize”, diz o embaixador chinês, Qiu Xiaoqi. Ele bate duro nos empresários que criticam o câmbio (leia entrevista ao lado). Como se vê, negociar com chinês não é nada fácil – e Dilma sentirá isso na pele.    
“O Brasil é que precisa aumentar sua competitividade” 
As empresas reclamam que é muito difícil investir na China. Pode haver facilitação para o investimento brasileiro no país?
Não concordo que seja difícil. A China é hoje o país em desenvolvimento que mais recebeu investimentos estrangeiros. A economia chinesa é uma das mais abertas do mundo, e o sucesso econômico dos últimos 30 anos está ligado a isso.
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Qiu Xiaoqi, embaixador da China no Brasil
A indústria se queixa da política do câmbio e dos baixos custos de produção, que levam a uma competição considerada desleal.
Não concordo que o câmbio é a origem dos problemas de outros países. Realmente temos custos de produção mais baixos, como salários. Mas também temos condições muito boas de infraestrutura. Temos os melhores aeroportos do mundo, os melhores portos do mundo, as melhores ferrovias. Tudo isso nos permite baixar os custos. Não tem nada a ver com a taxa de câmbio. Os empresários brasileiros é que têm que se perguntar como aumentar a competitividade dos produtos deles e não buscar a causa na moeda chinesa. Se o mercado do Brasil está aberto, a única maneira é fortalecer a competitividade. Senão, tem que fechar o mercado.

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